Pular para o conteúdo principal

Cartas - parte I








São paulo, 27 de novembro de 2015


Resolvi acompanhar seu estilo “vintage” de escrever à mão... Num caderno de desenho! Quem usa isso hoje em dia?! Há anos que não pego e não vejo um desses... isso me faz lembrar no quanto deixamos passar despercebido certas coisas, a única coisa de que me arrependo nessa vida é não ter passado todo  tempo que pude e queria ao seu lado, podendo rir até chorar das palhaçadas que você faz.


Percebi que digitar não expressa todo sentimento e toda atenção como escrever de próprio punho. Sai seco, impessoal. Na anterior passei uma semana escrevendo e apagando para que fosse “a mensagem perfeita”. 


Que bobagem!

O coração cria uma ligação direta à mão que escreve. Já não tenho mais controle dela, as palavras saem, vão se deslizando pelo papel sem que eu perceba, e olha só! Já foi uma página !


Em sua primeira carta, chorei como criança, fui avisada quando ainda estava voltando do trabalho. No ônibus mesmo não contive as lágrimas: “Ele me respondeu!!!”


Um largo sorriso se abriu, a saudade apertou e fiquei tentando conter as lágrimas pro provo não pensar que era mais um caso de namoro terminado pelo Whatsapp dentro dos ônibus de SP. (Acredite, isso é  muito comum).

Sua resposta foi, há muito tempo, a melhor sensação que pude experimentar. Até que eu tô curtindo esse lance de carta, é bem romântico. Posso contar aos netos que nunca vou ter.


Queria ter ido te visitar mês passado mas pensei que talvez a presença da família fosse essencial nesse momento. Resolvi esperar o próximo. Tô louca pra ver esse porte físico invejável.


É incrível como você é importante pra mim. Não faz ideia do quanto uma simples carta pode tocar o coração de alguém. Sinto sua falta como jamais senti antes.


Respondendo à sua pergunta, eu já tenho cartão de crédito e uma boca sexy acho que da pra fazer umas viagens, é claro que topo!.


Pensei primeiramente numa cidade litorânea. Longas caminhadas, muita filosofia nesse trajeto, e claro, muitas risadas... Eu fecho contigo, pra o que for, pode contar comigo, chorar no meu ombro, deitar no meu colo.... Estou aqui por você.


Sobre ver nuvens estranhas , de formatos estranhos no céu, como disse há pouco, tamo junto sempre! Acredito que isso possa ser realizado mais brevemente, estarei ai na sua próxima visita.


Sempre disse que prefiro você de cabelo curto, mas você é sempre do contra e estou bastante curiosa pra ver essa juba, o lado bom é que vou poder brincar de fazer penteado. E até que o coque está em alta na moda masculina.


Pera.... como assim só pode cigarros e não pode internet? Meu Deus que versão de valores absurda! Mas, se for analisar as relações de hoje em da, realmente o vicio da internet é muito mais prejudicial.

Fiz uma homenagem a você em meu Instagram pois precisava mostrar ao mundo quem é  Marcelo Borlenghi e o quanto ele é especial e importante na minha vida.


PS: Espero que a Bruna não veja senão...

Sempre admirei muito a facilidade que tens com as palavras e a forma como você as transforma em belíssimos textos. Diante disso estou criando um blog para postar seus escritos que não podem simplesmente se perder em uma timeline do Facebook. Ainda estou em fase de escolha e revisão dos textos e design do layout do blog. Ainda não pedi sua autorização também, preciso saber se você quer que seu nome seja divulgado e coisas do tipo.


Junto a esta carta estou te mandando um livro que amo e que espero que possa te inspirar a te fazer refletir no mínimo.
Citarei a seguir uma poesia de William Ernest Hunley:
Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou o senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.


Que essas palavras lhe toquem o coração assim como tocaram o meu.
Nelson Mandela declamou essa poesia ao ser eleito presidente da África do sul, relacionando-o à prisão na época do Apartheid.
Te desejo além de paz e força que você definitivamente seja o dono e senhor de seu destino, o comandante da sua alma.
Mal posso esperar pra te ver.
Obrigada por ser fonte de inspiração de três páginas (Raridade para alguém tão objetiva).
Estou contigo sempre! Conte comigo

Eu te amo.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Corações de alugueis

Mais uma vez o inquilino cessa o contrato como de costume, sem aviso prévio. A antiga moradora deixou tudo quebrado. Mais uma daquelas pessoas negligentes que mal cuidam de suas próprias coisas, quem dirá das dos outros. O telhado do coração foi rachado, há goteiras de saudade em todos os cômodos, e quando há tempestades de ausência, alagam-se tudo de tristeza. O dono do coração, com muita polidez abriu a porta, meio ressabiado, mas o sorriso e as doses de atenção já fora o suficiente para pôr-se em aluguel novamente, concedendo-a chave. E foi-se instalando... Aconchegou-se confortavelmente, porem aos poucos deixando de cuidar da sua fugaz morada. Eis que o inquilino deixou de ouvir as batidas daquele coração, e então ele deixou de entoar a orquestra que o fazia pulsar de alegria simplesmente por aluem ô habitar. E a história só declina... O coração então percebeu.... Ele anseia por alguém que não aja pela carência, os intitulou de peregrinos da paixão, que vivem de alugu

Os corações pescados

Porra! Fico pensando em como estes sentimentos me deixam disfuncional. É horrível não conseguir olhar sua foto sem que meu coração dispare e o ar fique rarefeito, é como estar à três mil metros de altura com dificuldade para respirar. Cadê meu isqueiro? Preciso acender um cigarro. No instante em que abro a sua foto, sou tomado por uma vontade de sair dirigindo sem rumo para espairecer, com o som no último volume, na tentativa de não escutar a droga desse coração vira lata sem dignidade que insiste em querer te mandar mensagem. Um misto de saudade misturado com repúdio, temperado com paixão e ódio. "Como estão sendo os seus dias?" "Olha, quero fazer isso, ou isso... Qual sua opinião?" "Poxa, estou com saudade, queria poder jantar contigo... Sinto falta de te olhar apaixonadamente, particularmente quando você acabava de acordar e dizia estar feia e descabelada" Ahhh... Mas CALA ESSA BOCA, coração burro. Traição é o ponto final em toda e qual

Corpos são apenas corpos...

Dia após dia, sua risada não vai embora. As pegadas que deixou na areia da nossa praia particular ainda estão intactas. Eu olho nossos passos, Refaço os mesmos caminhos, sem esperança de te encontrar... Aquele ponto de ônibus ficou tão triste. Era ali onde o portal para outra dimensão começava. Este quarto ficou tão quieto... A fumaça do meu cigarro solitário não basta para preencher meus pulmões. A nicotina não tem o mesmo sabor que tinha antes. Escolher um filme não tem a mesma animação. Tudo perdeu boa parte da graça depois que acabou. Meus olhos são como represas que hoje transbordaram... As barragens não são fortes o suficiente para conter tantas lágrimas que querem encontrar seu lugar fora deste corpo... Eu não consigo descrever a sensação, isto me deixa inquieto. No céu das minhas lembranças, você é a estrela que mais brilha. Nem mesmo quando tudo fica nublado pelo rancor do passado, consegue apagar teu brilho. Você rasga a escuridão da minha vida como o raio d